AHRESP quer soluções e mais inovação para a restauração e alojamento turístico

O Congresso Nacional da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), sob o lema «Gestão é ter o coração do lado certo» debateu durante dois dias, soluções e mais inovação para a restauração e alojamento turístico.

O evento contou com cerca de 1.600 inscritos (empresários, formandos, professores, especialistas e decisores, entre outros), e teve lugar no Parque de Exposições de Aveiro, dias 12 e 13 de outubro.

Das diferentes intervenções, que abordaram temas como a inteligência artificial, saúde mental, inclusão e capacitação de imigrantes, sustentabilidade, dinâmica de marcas, fiscalidade e logística, destacam-se as conclusões do Barómetro da Restauração e Similares, realizado pela Nielsen IQ, e o estudo sobre demissões silenciosas no Turismo, avançado pelo Laboratório Knowledge to Innovate Professions in Tourism (KIPT). Ambos os estudos foram feitos em parceria com a AHRESP.

Na abertura dos trabalhos, e a propósito da proposta de Orçamento do Estado para 2025, Carlos Moura reiterou que existe sempre, por parte da associação, a disponibilidade «para encontrar soluções».

O presidente da direção da AHRESP elencou algumas das 25 medidas para o Orçamento do Estado (OE) que a associação apresentou e que considera essenciais para as mudanças necessárias para os sectores representados pela AHRESP não estagnarem e para continuarem a contribuir para a economia nacional.

«A reposição do IVA para a taxa intermédia (13 por cento) em toda a fileira da alimentação e bebidas é fundamental», defendeu. Outra sugestão passa pela «criação de uma alta escola de gastronomia, com o objetivo de elevarmos ainda mais o patamar da qualidade e da excelência, em termos de conhecimento, de qualificação e de competências técnicas».

Carlos Moura defendeu, ainda, programas de apoio à integração de migrantes (habitação, formação e valorização), bem como o aumento do salário médio, devendo, para isso, ser criado um ambiente mais favorável para as empresas desenvolverem os seus negócios. Quanto à taxa turística, o presidente da AHRESP reiterou a oposição da associação, sendo que, a existirem, a receita deve ser aplicada em prol das comunidades locais. Referiu, ainda, a importância da capitalização das PME, o reforço do capital próprio, a aplicação de moratórias financeiras com garantias mútuas e o apoio ao investimento em eficiência energética, eficiência hídrica e transição digital.

Barómetro da restauração e similares

Ana Paula Barbosa, diretora de serviços para o Retalho da Nielsen IQ, revelou os primeiros números do Barómetro da Restauração e Similares, realizado em parceria com a AHRESP. De acordo com o estudo, as dificuldades no recrutamento e a contração do negócio são preocupações, com 1 em cada 3 inquiridos a responder que percepciona que o seu negócio decresceu nos dois primeiros trimestres de 2024.

Cerca de 36 por cento afirma ter sentido quebras no consumo durante este período de tempo, o que pode justificar a percentagem de 42 por cento de inquiridos que se diz pouco confiantes relativamente aos próximos seis meses. Mais de metade (52 por cento) percepciona que o volume de negócios do sector está a decrescer. Menor poder de compra (80 por cento) é a principal razão apresentada como potencial motivo para as quebras de consumo. Apenas 22,1 por cento dos clientes habituais são turistas e existe a percepção de que as quebras de negócio foram maioritariamente à semana e ao almoço.

A falta de formação ou experiência (66 por cento) é a principal dificuldade sentida no recrutamento de pessoas para trabalhar no sector, seguindo-se a burocracia necessária (24 por cento), os problemas de comunicação (língua portuguesa) e a pouca oferta ou falta de pessoas interessadas.

Mais de metade (59 por cento) têm trabalhadores estrangeiros, sendo a nacionalidade brasileira a predominante (79 por cento). As questões de mão de obra são um desafio para o canal HORECA – 1 em cada 3 inquiridos diz que precisa de contratar mais trabalhadores, em média cerca de duas pessoas, sobretudo para servir à mesa ou balcão, mas também para a cozinha.

A temática dos impostos e tributação (48 por cento) é o que mais preocupa os entrevistados nos próximos 6 meses. Estes resultados dizem respeito à primeira vaga (1.º e 2.º trimestres de 2024). O estudo foi elaborado com base num inquérito online realizado durante os meses de agosto e setembro.

Demissão silenciosa nas empresas do Turismo

No segundo dia de Congresso, a sessão «Saúde e Inclusão» trouxe à discussão a saúde mental no trabalho, com Gaspar Ferreira, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a alertar para a importância do bem-estar nas empresas.

Antónia Correia, presidente do KIPT, avançou que o risco de quiet quitting (demissão silenciosa) é maior nos trabalhadores solteiros (25 por cento), e nos que têm entre 25 e 34 anos (28 por cento).

Os portugueses estão em maior risco de aderir à prática (23 por cento) do que os estrangeiros (18 por cento), assim como os empregados com formação profissional e superior (57 por cento), seguidos dos que têm formação inferior ao ensino básico (50 por cento). A propensão para desistir é maior entre os que ganham mais de 3 mil euros (35 por cento), seguidos dos que ganham até 999 euros (24 por cento).

Entre as conclusões que constam no estudo feito pelo laboratório KIPT em parceria com a AHRESP, verifica-se que, para otimizar a retenção de talentos, é necessário haver uma gestão eficaz, ou seja, adaptada às necessidades dos diferentes tipos de trabalhadores – mais jovens, imigrantes, profissionais com formação superior. «One size fits all não funciona na retenção de talentos», assegura Antónia Correia.

Oradores

Pelo congresso deste ano passaram o Ministro da Economia, Pedro Reis, o Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, o Chefe do Estado-Maior, Almirante Gouveia e Melo, o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, entre outros oradores de referência das áreas empresarial, institucional e académica.

Mário Centeno explicou que devemos ser otimistas porque «a economia portuguesa vive uma situação privilegiada e cresce há mais de uma década, convergindo com a área do Euro».

Afinal, «o investimento nacional tem tido uma dinâmica maior do que o da Europa», que «não está a crescer há muitos trimestres seguidos,» disse, ressalvando que, ainda assim, é necessário haver precaução. «Nós temos, em 2024, o aumento da despesa pública maior que temos registado desde 1992. O aumento da despesa permanente cria problemas para o futuro». Revelou, ainda, que Portugal vive uma situação inédita de crescimento: «Foram criados cerca de 5 milhões de empregos. Há 10 anos, eram apenas 4 milhões».

Durante a sessão de abertura, Raúl Almeida, disse que o turismo «não existia sem a ajuda das empresas» e que «de nada serviria a atratividade da região centro se a oferta hoteleira e da restauração não estivesse vindo a subir e a oferecer experiências ao nível dos melhores».

José Ribau Esteves destacou que, «nesta área da restauração e da hotelaria, o profissional só acede à excelência quando se entrega, com o coração, no trabalho que está a fazer». Para o presidente da autarquia de Aveiro, «é preciso saber falar português, conhecer a cultura portuguesa e assumir aquela que é uma nota distintiva do ser português – a capacidade extraordinária de acolher e receber os outros».

No último dia, a AHRESP dedicou uma das sessões aos seus associados há mais de 25 anos e de 50 anos. Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, homenageou-os, referindo que «um turismo forte necessita de um associativismo forte. A AHRESP é, claramente, um exemplo disto mesmo».

O Congresso Nacional da AHRESP, que contou com mais de 62 oradores, 36 expositores de parceiros, incluindo oito pertencentes a autarquias do distrito de Aveiro (Mealhada, Anadia, Sever do Vouga, Ílhavo, Santa Maria da Feira, Albergaria-a-Velha, Águeda e Aveiro), disponibilizou sessões temáticas, workshops, apresentações de casos de sucesso e outras atividades paralelas, com o objetivo de partilhar conhecimento, boas práticas e soluções inovadoras para o futuro.

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) nasceu em 1896. É a maior associação empresarial portuguesa, representando mais de 50 áreas de atividade dos sectores da restauração e similares e alojamento turístico, que contribuem para uma das maiores locomotivas do desenvolvimento e da economia da sociedade portuguesa: o Turismo.
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